[português]

Desde 1998, a artista Ana Maria Tavares tem explorado uma fusão de expressões cotidianas e frases idiomáticas de diversos idiomas, incorporando a linguagem como um elemento conceitual fundamental em sua obra. Essa abordagem revela uma perspectiva crítica sobre o uso de mecanismos globais como uma fuga das pressões da vida contemporânea, criando uma ilusão enganosa de empoderamento pessoal. A obra apresentada aqui é uma extensão de suas investigações recentes, que se concentram na análise de como a sociedade capitalista impõe impostos aos indivíduos meios fugazes, de escapar das tensões da vida moderna. O foco então recai sobre esses artifícios, frequentemente articulados pela mídia e pela indústria do turismo, que tornam o indivíduo simultaneamente cúmplice e vítima de um sistema que já o cooptou. O resultado mais perverso desse processo é a ilusão de poder, prazer e autoestima que prometem proporcionar.

Para Tavares, estas expressões são como poemas visuais compostas pelo texto gravado ora nas superfícies de espelhos ora no aço inox colorido. Nestes últimos 25 anos, a artista vem colecionando palavras e expressões familiares que resulta também na criação do que denomina como mantras da contemporaneidade. A sonoridade obtida pela repetição dos temas escolhidos acaba também introjetando no sujeito a consciência crítica em relação à realidade material e espiritual. A obra apresenta um questionamento para além da realidade especular.

IDESIRE

IDESERVE

IDELIGHT

Esta obra é uma exploração intrigante da relação entre texto, reflexão e ilusão, convidando o público a questionar a realidade e a refletir sobre a natureza da visão e da representação. A obra Miragem: Idesire Ideserve Idelight (2023) é composta por um espelho convexo com um diâmetro de 80 centímetros, montado em uma estrutura de alumínio. O espelho é revestido com um adesivo de vinil e poliéster espelho prateado, que cria uma superfície altamente reflexiva e brilhante. O título da obra evoca uma sensação de ilusão e mistério. O espelho convexo distorce e amplifica a imagem do espectador, criando uma sensação de espaço tridimensional que desafia a percepção.

Ana Maria Tavares, 2023