[português]
O percurso proposto nas obras de Ana Maria Tavares é marcado pela
relação entre espaço, obra e espectador, e envolve a tensão entre escultura e
design como uma armadilha para os sentidos. Além disso, há o deslocamento de
"não-lugares", a participação e diluição na obra. A partir dessas
obras, que pressupõem uma decisão do espectador-participador, destaca-se o
projeto Visiones Sedantes, desenvolvido para a Bienal de Havana de 2000,
no qual a artista emancipa a obra do terreno estéril das artes plásticas. No
contexto específico da Bienal de Havana, a artista ocupou uma galeria da
Biblioteca Nacional da cidade. Essa galeria estava forrada com lajotas de
cerâmica branca e tinha uma fachada de vidro que dava vista para uma praça
conhecida pelo comércio turístico de livros antigos em bancas improvisadas. A
artista instalou uma sala VIP de aeroporto nesse espaço, com música ambiente e ar-condicionado,
e vedou-a com insulfilm contendo palavras escapistas do universo do
anestesiamento. Essa instalação gerou uma contradição, adquirindo um caráter
político ao vigiar a situação perversa do turismo predatório na região de
Havana, onde estavam sendo construídas muitas lojas de grife. Espelhos
retrovisores foram posicionados de forma a refletir a venda de livros para
turistas enquanto a biblioteca estava vazia, transformando o exterior em um
cinema e criando uma miragem. As palavras impressas na fachada foram
colecionadas desde a exposição "Porto Pampulha", realizada em 1997,
na qual a artista transfigurou o Museu da Pampulha. Ana Maria Tavares aborda os
estados de suspensão do espectador em relação à paisagem, à arte e ao contexto
do projeto modernista em que o ex-cassino foi construído. Em 2002, a instalação
"Visiones Sedantes 2" foi montada na galeria da Fiesp como parte da
exposição "Estratégias para Deslumbrar". Nessa obra, a fachada de
vidro da galeria tornou-se a quarta parede de uma sala especialmente construída
para o trabalho.
[inglês]
The route
proposed in the works of Ana Maria Tavares is marked by the relationship
between space, work and spectator, and involves the tension between sculpture
and design as a trap for the senses. In addition, there is the displacement of
"non-places", the participation and dilution in the work. From these
works, which presuppose a decision by the spectator-participant, the project
Visiones Sedantes, developed for the 2000 Havana Biennial, stands out, in which
the artist emancipates the work from the sterile terrain of the visual arts. In
the specific context of the Havana Biennial, the artist occupied a gallery in
the city's National Library. This gallery was lined with white ceramic tiles
and had a glass facade overlooking a square known for the tourist trade of old
books in improvised stalls. The artist installed an airport VIP room in this
space, with ambient music and air conditioning, and sealed it with insulfilm
containing escapist words from the universe of anesthesia. This installation
generated a contradiction, acquiring a political character by monitoring the perverse
situation of predatory tourism in the Havana region, where many designer stores
were being built. Rearview mirrors were positioned to reflect the sale of books
to tourists while the library was empty, transforming the exterior into a
cinema and creating a mirage. The words printed on the facade were collected
from the exhibition "Porto Pampulha", held in 1997, in which the
artist transfigured the Pampulha Museum. Ana Maria Tavares addresses the
spectator's states of suspension in relation to the landscape, the art and the
context of the modernist project in which the former casino was built. In 2002,
the installation "Visiones Sedantes 2" was mounted at the Fiesp
gallery as part of the exhibition "Strategies to Dazzle". In this work,
the glass façade of the gallery became the fourth wall of a room specially
built for the work.
Juliana Monachesi
Referência: http://www.forumpermanente.org/rede/numero/rev-numero2/juliana-2