[português]

A obra “Massagem para Olhos Cariocas” apresenta-se como parte do conceito desenvolvido durante o doutorado da artista, intitulado “Armadilhas para os sentidos: uma experiência no espaço-tempo da arte”. A tese abordava os espaços públicos de passagem, a perda das relações afetivas e a indiferença resultantes das políticas de vigilância e do medo, impulsionados pela globalização e pelas mudanças trazidas pelo capitalismo. O termo aparelho para o campo do corpo foi cunhado pela artista para descrever peças inspiradas no mobiliário urbano, que visavam projetar o sujeito em um tempo dilatado e levá-lo a questionar sua propria condição no mundo. Essas obras eram dispositivos críticos que convidavam o sujeito a experienciá-las, tornando-se parte integrante da obra. Além dos aparelhos para o campo do corpo, a artista também criou instalações que simulavam espaços públicos, desprovidas de vida e função. Essas instalações atuavam como “naturezas-mortas” encenadas, promovendo rotações conceituais e convidando o sujeito a refletir o status da obra, da instituição e sobre sua própria condição no contexto familiar. A obra está alinhada ao modernismo clínico da Escola Carioca e carrega uma dose de perversidade característica das obras da artista. Nela, o sujeito é convidado a deitar-se em uma espécie de “maca hospitalar” fixada na parede e usar uma máscara de massagem nos olhos. Essa posição de repouso e o impedimento visual promovem uma escuta interior e uma experiência descolada do mundo exterior. O título da obra faz referência à cidade do Rio de Janeiro e ao projeto modernista que submete à exuberância da natureza tropical ao controle da engenharia e da raça. A obra busca romper com a sedução do mundo exterior e proporcionar uma experiência interiorizada, convidando o sujeito a reiniciar, rever e retomar criticamente o mundo além de si mesmo. Dessa forma, “Massagem para Olhos Cariocas” se enquadra na proposta da artista de criar dispositivos críticos que promovem uma ruptura com o hábito e levam o sujeito a uma reflexão mais profunda sobre sua condição e seu entorno.

Ana Maria Tavares, 2021