TAUTORAMA – Ana Maria Tavares
“Dada a causa, a natureza produz o efeito no modo mais
breve em que pode ser produzido." Leonardo Da
Vinci
“Tautorama” é uma palavra inventada, fusão de tautologia (repetição
de um mesmo pensamento, A1:I107 de
diferentes maneiras) e hórama (palavra
grega que significa “vista” ou “espetáculo”). O artifício de somar significados
e criar espelhamentos são características presentes no trabalho de Ana Maria
Tavares.
Os vídeos que abrem a mostra são registros de uma memória distante,
uma natureza intocada. As imagens em preto e branco e slow motion sugerem uma dilatação no tempo. A divisão em diferentes
telas e a repetição das cenas propõe uma suspensão da velocidade cotidiana em que
vivemos e com que chegamos neste espaço, neste instante. Um prenúncio que
prepara o olhar.
A sala principal revela, reflete e questiona. Revela o lado
de fora, reflete o olhar da artista, questiona o próprio local expositivo. A
retirada dos painéis que sempre taparam a visão exterior para quem estava no
interior da sala foi o ponto de partida.
O gesto, aparentemente simples, foi despertado pela busca de
poesia atrás das falsas paredes e fora da instituição. A ação resgata a história e a beleza natural
do lugar. Um ato performático que causa uma reação instantânea.
O revelar da exuberante natureza que circunda o prédio e a
entrada franca da luz solar pelas vidraças do edifício são ecos da memória do
local. Um resgate da proposta arquitetônica original de relação do prédio com o
lado de fora, e vice-versa. E, com o passado mais distante daquela área, que
antes da construção era mata.
O verde das plantas e a distribuição espontânea dos galhos,
folhas e árvores criam um diálogo direto, quase um reflexo, com a série de
fotografias “Airshaft”. O emaranhamento geométrico e assimétrico das imagens e
a tonalidade predominantemente verde e cinza formam uma espécie de floresta
artificial e arquitetônica.
As fotos expostas em grande escala, de forma semicircular, criam
um ambiente imersivo que mescla visões naturais e artificiais, seja no reflexo
percebido ou em sua inexistência. Ambiguidade também presente na relação com o
tempo, passado e presente; com o espaço, interno e externo; e com a velocidade:
aceleração e contemplação.
Afinal, a proposta é sentar, relaxar, respirar, observar,
fruir e sentir a vista espetacular, sempre igual e diferente, o
"Tautorama" das diversas naturezas ao redor.
Daniel Rangel