Rotações Infinitas
Data / Date
2018
Local / Location
Galeria Vermelho
Cidade / City
São Paulo

As séries de obras apresentadas nesta exposição partem de uma vontade recorrente em minha produção: apontar para o fato de que apesar dos enormes esforços em direção a certo purismo e assepsia programática no campo da arquitetura modernista, essa nunca conseguiu de fato eliminar ornamento, o qual estava claramente associado às intolerâncias raciais e de classe, segundo o manifesto de Adolf Loos (1910). Este a priori, determinado por seu manifesto, travestiu a arquitetura modernista de um racionalismo que, de certa forma, nos cegou e nos trouxe consequências ainda hoje perversas, sentidas em muitas esferas da vida corrente. No século XX, arquitetura e o urbanismo se tornaram ferramentas para um extenso programa eugenista, amplamente implementado em nosso país. Convivemos com este legado e até aprendemos a exaltá-lo, mas não nos é produtivo continuar acreditando que a vida destituída de hibridações e diferenças avançará melhor. Ao contrário, devemos examinar essas referências e nos posicionar frente a tudo que se alinha a essa visão higienizadora. 

A partir da apropriação e da citação de Mies van der Rohe e do Pavilhão Barcelona que o arquiteto concebeu em 1929 faço uma dobra na qual a fala silenciosa do ornamento, presente nos materiais que utiliza, se funde ao repertório de meu próprio trabalho para organizar um novo sentido. Nas obras expostas no interior de uma arquitetura não menos emblemática –   Galeria Vermelho, de Paulo Mendes da Rocha – verificamos uma série de rotações de arquiteturas autorais, conceito formulado em obras no período de 1997-2000 e que se estende até o presente. Além de Van der Rohe e Niemeyer, presentes em  bras como Barcelona (Antigodlin), Fotogrametria Hemisférica (Barcelona São Paulo), ou em Paisagens Mudas (para Mies) e Disjunção Prismática (Coluna Mies), trago novamente Adolf Loos, que se fará notar em outra série de obras, por meio da opacidade de superfícies poligonais intituladas Empenas Cegas. Ainda Loos. Essas últimas forjam fragmentos de uma arquitetura – a casa tarjada, projetada por ele para Josephine Baker – cuja pele se torna superfície opaca e dá forma a uma outra paisagem, um conjunto de corpos intransponíveis. A ênfase no vocabulário dos elementos construtivos usados pelos arquitetos modernistas e por mim, ao longo dos anos, tem como objetivo dar voz aos materiais, ou seja, apontar para a impossibilidade de fazê- os emudecer. Planos impuros e superfícies contaminadas, carregadas de comentários acerca da relação entre natureza e cultura regem todos os trabalhos e buscam construir, por meio de suas relações, novos sentidos e presenças.

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Inspired by Mies van der Rohe and his Barcelona Pavilion (1929) these works call attention to the silent presence of the ornament which van der Rohe makes use of. By using these same materials in the works –travertine marble, stainless steel and glass, and presenting it at another emblematic architecture by Paulo Mendes da Rocha –the galleria Vermelho, in São Paulo– the pieces bring together a discussion about the ways in which, although prefigured as obsolete and related to the uncultured, the ornament finds its way in the form of minerals and claim its resistance against all dogmas. To make that even more explicit, the series entitled After Loos , striped marble made into polygons oppose the transparency of Mies van der Rohe’s pavilion to claim its surfaces as skin and the set of works some kind of mute architectural bodies. The emphasis on the constructive vocabulary used by modernist architects which reverberates in my work is intended to bring to the surface the disguised contents and make them speak. Through the use of diverse materials, organic and industrialized, opaque, transparent or mirrored, contaminated and impure planes and surfaces comment on the relation between nature and culture and seek to comment on 20th century architecture’s pursue to achieve purity in all levels of life. 

Ana Maria Tavares


Skena in aqua I e II (da série Micropaisagens). Vista da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Paisagens Mudas I (Janelas para Mies), Disjunção Colunar (para Mies) e Barcelona (Antigodlin). Vista da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Paisagens Mudas I (Janelas para Mies), Disjunção Colunar (para Mies) e Fotogrametria Hemisférica I (Barcelona/São Paulo). Vista da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Paisagens Mudas I (Janelas para Mies), 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Fotogrametria Hemisférica I (Barcelona/São Paulo), 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Vista da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Empenas Cegas I, II e IV. Ainda Loos (da série Condomínios). Vista da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Empenas Cegas I e III. Ainda Loos (da série Condomínios). Vista da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Airshaft XIII e Eclipse VIII (da série Hieróglifos Sociais). Vista da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Airshaft para Piranesi X - da série Tautorama, 2013. Vista da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018. Créditos: Edouard Fraipont.


Projeção do vídeo Utopias Desviantes II (da série Hieróglifos Socias), 2015. Créditos: Edouard Frainpont.


Divulgação virtual da exposição "Rotações Infinitas", na Galeria Vermelho, 2018.