[português]
Secrets of the Waters (for
Mnemosyne) tem suas origens na pesquisa realizada na Holanda entre
2005-2008 que me inspirou a criar o projeto para a exposição internacional de
esculturas públicas Soonsbeek X, Grandeur, com curadoria de Anna Tilroe em
2008. O estudo sobre as águas da província de Gelderland e da cidade de Arnhem,
especificamente, levou-me a criar um conjunto de obras intituladas Secrets
of the Waters, The Wish Ribbon Net e Crystal Waters, todas
destinadas a celebrar as águas da região e a falar sobre a importância da
relação entre as crenças medievais e a ciência contemporânea, como técnicas
utilizadas para o desenvolvimento econômico da região e a sobrevivência da
população.
O trabalho partiu de uma simples
pergunta: "de onde vem a água?" e reuniu a técnica de radiestesia
medieval e os desenvolvimentos contemporâneos da engenharia do solo. A
radiestesia era uma prática comum na Idade Média e ainda hoje pode ser usada
para determinar o local exato para encontrar os veios de água subterrâneos ou
os campos magnéticos da Terra. O projeto pretendia criar uma rede de conexões
extremamente curiosas entre a importância da água na história da cidade: suas
práticas de produção e desenvolvimento econômico e, por fim, comentar como isso
afetou as relações sociais.
A obra é uma celebração quanto
uma plataforma para examinar nossa percepção do tempo em relação à natureza a
partir da perspectiva de nossos desejos e necessidades. Joga com a memória e
com o presente, abordando as questões ambientais. O projeto toma a água como
elemento central e se estrutura através da articulação da experiência oral pelo
uso de um mantra poético.
A água sempre foi considerada um
símbolo de fertilidade e está ligada à origem do mundo; ao nascimento, limpeza
e renovação. Está associado à pureza e tranquilidade, mas também pode ser
tempestuoso e ameaçador, impossível de controlar e não confiável. Ele carrega o
poder de transição: de líquido para sólido para vapor. O tempo, a memória, a
história, a atualidade, a tecnologia antiga, são todos chamados à ação para
abordar questões que são, a meu ver, mais urgentes hoje.
Outra referência vem da mitologia
grega e de sua deusa da memória, Mnemosyne, a quem se atribui a descoberta do
poder da memória e que, como mãe de todas as musas, também foi patrona da
tradição oral. Na obra, esta tradição oral assume a forma de um mantra que,
tradicionalmente, assenta na memória e na repetição. O mantra é estruturado
como um auxiliar de memória poética ou, em termos gregos, um mnemônico.
Menmônicos são frequentemente declarações verbais, como um poema muito curto ou
uma palavra especial usada para ajudar uma pessoa a se lembrar de algo. Como
elemento importante da obra, tanto na forma escrita quanto na oral, serve aqui
para comentar nosso poder de ansiar, de realizar, de celebrar e de resistir.
Ana Maria Tavares, 2021