Pertencente à série Mesas, O Beijo é formado por escultura que é uma plataforma suspensa por pernas alongadas com rodas industriais, à altura média do olhar. Pretendia-se aqui estabelecer o contraste entre as referências do universo objetivo do espectador, evidenciado na escultura pela forma de objeto utilitário ( a mesa com rodas) e um outro universo, mais subjetivo, emoldurado e ativado por filetes de alumínio que remetiam ao desenho. Porém, é importante ressaltar que, na série Mesas, as rodas cumpriam um papel de grande importância na medida em que sugeriam, mesmo que metaforicamente, o suposto deslocamento do desenho mural para o espaço real. O caráter "móvel" conferido à obra pela presença das rodas pretendia sinalizar o forte desejo de fazer com que o trabalho assumisse, mais definitivamente, sua condição tridimensional. Desta forma, elas poderiam ser entendidas como um comentário irônico e até bem humorado, a respeito da autonomia da obra e de sua permanência no contexto da arte.
Ana Maria Tavares, 2000
O Beijo, 1989. Aço carbono, rodízios e alumínio anodizado. 120 x 60 x 200 cm. Edição única. Créditos: Eduardo Brandão.