[português]

O convite para realizar uma intervenção em um antigo edifício – uma fábrica têxtil construída em 1934 e abandonada por mais de vinte anos, na zona leste em São Paulo – tornou mais evidente meu interesse pelo trabalho de Giovanni Battista Piranesi (1720 – 1778). Das obras de Piranesi sempre me chamou especial atenção sua série de gravuras Carceri d’Invenzione, dado o caráter crítico destas peças gráficas, realizadas no século XVIII. O resultado deste encontro – de minhas experiências físicas e sensoriais neste edifício abandonado com as fortes lembranças das prisões imaginárias de Piranesi – resultou na obra Labirinto (2002). Esta intervenção arquitetônica penetrou lajes e pisos a fim de se constituir como um enorme labirinto conectado por plataformas suspensas e escadas de aço que serpentearam por entre os andares, perfurando pisos e paredes, a fim de ressignificar as experiências do tempo e do espaço desta edificação em aparente condição de ruína. A partir da intervenção, realizada para o evento de arte pública artecidadezonaleste, em 2002, iniciei um projeto de larga duração, o qual tomou o labirinto e o fragmento como ponto de partida para a articulação de uma grande série, posteriormente intitulada Airshaft.

As obras que compõem a série Airshaft abrangiam, inicialmente, vídeos e desenhos digitais que deram origem à produção de trabalhos em diversas técnicas e inspiraram a criação de instalações únicas em diversas escalas, as quais foram expostas a partir de 2002 em vários museus do Brasil e do exterior. Fazem parte deste conjunto as instalações Labirinto, SP, 2002; Kensington Maze, UK, 2003, e Open-Air Temple for Cingapura, 2006; as vídeo-instalações Airshaft para Piranesi, 2008, e Rotação Infinita: Invenzione para Piranesi (da série Airshaft), 2015; uma larga série de obras gráficas intituladas Airshaft, iniciadas em 2008, além dos desenhos preparatórios realizados a partir de 1998. 

Ana Maria Tavares, 2017