Anotações sobre o trabalho como espelho
Autor / Author
Ana Maria Tavares
Data / Date
2008
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Fonte
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A intenção de promover um diálogo entre o desenho, design, escultura e arquitetura é uma das marcas características de minha produção desde seu início nos anos 1980. Este diálogo tornou-se ainda mais intenso na década de 1990, com a introdução de elementos que transformaram os objetos/esculturas em peças funcionais definidas como “estruturas de suporte para o corpo” e os locais de exibição em uma realidade familiar, porém em suspensão e quase virtual. As “estruturas” concebidas neste período tiveram como inspiração elementos e detalhes geralmente encontrados no contexto de hospitais, salas de ginástica e, sobretudo, no que denominamos “não-espaços” ou espaços de trânsito: metrôs, estações, aeroportos, salas de espera, auto-estradas e shoppings. O mobiliário urbano, projetado para esses espaços públicos ou para metrôs e ônibus metropolitanos, também tornou-se objeto de estudo e inspiração. A investigação desses espaços públicos tomados pelo fluxo intenso de pessoas levou à observação atenta do comportamento coletivo nestes ambientes regulados. Constatei, então, o quanto esses “não-lugares” com seus ambientes “vestidos” pelo design de mobiliários precisos e reguladores promovem, em seus usuários, um sentimento de status e empoderamento (empowerment) criando uma ilusão de bem estar e interação e provocam a experiência de uma tensão solitária. A partir destas constatações passei a entender que a distração e a indiferença são provavelmente as experiências mais recorrentes nesses ambientes. Tal reflexão possibilitou a formulação de uma série de instalações e trabalhos que tinham como objetivo transformar esses conceitos – distração e indiferença – em experiências radicais com o objetivo de reconectar o sujeito a um estado de consciência crítica. Os ambientes criados, mobiliados por objetos funcionais, imagens em movimento (animações 3D em vídeo ou filme) e peças sonoras, tinham o propósito de revelar uma estranha vida que parecia estar totalmente em repouso, suspensa ou simplesmente congelada, como se fosse possível habitar uma natureza-morta. Tais espaços-instalações visavam alcançar uma estranha e desconcertante natureza e tornavam-se lugares onde ao visitante restava perguntar “Onde estou”?, “O que estou fazendo?”, “Para onde vou?”. Entendo que não existam respostas simples ou únicas para estas perguntas. Minha intenção ao eliciá-las era criar um estado de alerta que pode ser revelado pela afirmação: “Partimos, mas ainda não chegamos”...

A intenção de promover um diálogo entre o desenho, design, escultura e arquitetura é uma das marcas características de minha produção desde seu início nos anos 1980. Este diálogo tornou-se ainda mais intenso na década de 1990, com a introdução de elementos que transformaram os objetos/esculturas em peças funcionais definidas como “estruturas de suporte para o corpo” e os locais de exibição em uma realidade familiar, porém em suspensão e quase virtual. As “estruturas” concebidas neste período tiveram como inspiração elementos e detalhes geralmente encontrados no contexto de hospitais, salas de ginástica e, sobretudo, no que denominamos “não-espaços” ou espaços de trânsito: metrôs, estações, aeroportos, salas de espera, auto-estradas e shoppings. O mobiliário urbano, projetado para esses espaços públicos ou para metrôs e ônibus metropolitanos, também tornou-se objeto de estudo e inspiração. A investigação desses espaços públicos tomados pelo fluxo intenso de pessoas levou à observação atenta do comportamento coletivo nestes ambientes regulados. Constatei, então, o quanto esses “não-lugares” com seus ambientes “vestidos” pelo design de mobiliários precisos e reguladores promovem, em seus usuários, um sentimento de status e empoderamento (empowerment) criando uma ilusão de bem estar e interação e provocam a experiência de uma tensão solitária. A partir destas constatações passei a entender que a distração e a indiferença são provavelmente as experiências mais recorrentes nesses ambientes. Tal reflexão possibilitou a formulação de uma série de instalações e trabalhos que tinham como objetivo transformar esses conceitos – distração e indiferença – em experiências radicais com o objetivo de reconectar o sujeito a um estado de consciência crítica. Os ambientes criados, mobiliados por objetos funcionais, imagens em movimento (animações 3D em vídeo ou filme) e peças sonoras, tinham o propósito de revelar uma estranha vida que parecia estar totalmente em repouso, suspensa ou simplesmente congelada, como se fosse possível habitar uma natureza-morta. Tais espaços-instalações visavam alcançar uma estranha e desconcertante natureza e tornavam-se lugares onde ao visitante restava perguntar “Onde estou”?, “O que estou fazendo?”, “Para onde vou?”. Entendo que não existam respostas simples ou únicas para estas perguntas. Minha intenção ao eliciá-las era criar um estado de alerta que pode ser revelado pela afirmação: “Partimos, mas ainda não chegamos”...